Esse blog tem a finalidade de divulgar ciência e tecnologias em linguagem popular, pois seu melhor entendimento é de total interesse nacional, uma vez que além de promover o desenvolvimento de senso crítico, ele propicia um acompanhamento cada vez mais democrático de seu futuro. Se construirmos um Brasil mais informado, quem sabe, possamos torná-lo mais justo.

terça-feira, 31 de março de 2009

O papel da ciência e tecnologia no desenvolvimento nacional

Desde a Grécia antiga de Platão e Aristóteles, o Homem busca o conhecimento racional para melhor compreender a natureza e, assim, encontrar respostas as questões referentes aos problemas do seu dia-a-dia. Desde então, indivíduos notáveis de nossa sociedade contribuíram para o desenvolvimento do que hoje denominamos ciência. Essa última fundamenta-se em leis e, principalmente, no empirismo e tem tido como principal fruto a tecnologia – uma sistematização metodológica do conhecimento que objetiva facilitar a vida humana.
O processo de industrialização, que a sociedade moderna promoveu, fez com que seus produtos se tornassem indispensáveis a vida humana. Decorrentes disso, o domínio científico e a capacidade de inovação tecnológica tornaram-se bases fundamentais da polarização do poder e, conseqüentemente, cruciais ao exercício de liderança nas relações internacionais, tanto no âmbito comercial - produtos e cultura - quanto no diplomático ou bélico.
Os países que regem essas relações são os mais desenvolvidos. Segundo o professor de economia Eduardo da Motta e Albuquerque – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - uma das grandes diferenças no desenvolvimento dos países refere-se ao modo pelo qual eles estruturaram seus sistemas de inovação tecnológica. De uma maneira geral, as maiores economias do mundo podem ser divididas em três grupos.
O primeiro compreende os países mais desenvolvidos capazes de gerar novas formas de tecnologias e que, conseqüentemente, participam com liderança na produção científica mundial. O pioneirismo desses países se deve aos seus sistemas de inovação modernos, que os capacitam a manterem-se na fronteira tecnológica ou muito próxima dela – eles desenvolvem tecnologia de ponta. Fazem parte desse grupo: Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, Inglaterra, França e Itália.
O segundo grupo abrange os países cujo objetivo central de seus sistemas de inovação é a apropriação e a difusão da tecnologia desenvolvida pelo primeiro grupo. Devido ao elevado dinamismo tecnológico que possuem e aliado a uma forte atividade científica e comercial interna, esse grupo absorve criativamente os avanços gerados nos centros mais avançados e os utilizam intensamente difundindo-os. Esse grupo é formado pela Suécia, Dinamarca, Holanda, Suíça, Coréia do Sul e Taiwan.
No terceiro grupo encontram-se países que construíram unidades de ciência e tecnologia que não se transformaram em sistemas de inovação. Devido à falhas de infra-estrutura e/ou fraca articulação dos conjuntos de ciência e tecnologia com o setor produtivo, os segmentos tecnológicos não são tão expressivos na economia quanto os de grupos anteriores. Esse grupo é constituido de países emergentes como o Brasil, Argentina e Índia.
Nota-se, porém, que nesta última década alguns países sem sistemas de inovação adequados, estão tentando atender às necessidades do mundo globolizado, mas ainda seus esforços são insuficientes. O Brasil é um exemplo desse movimento, apesar de ter fortalecido sua economia, diminuido a diferença social, aprimorado sua infra-estrutura, aumentado o fomento à educação e pesquisa, criado novos centros de tecnologia e novas escolas técnicas, ainda, as necessidades do país estão longe de serem devidamente supridas quando comparadas com países mais desenvolvidos.
No caso brasileiro, para que esse cenário acima descrito seja alterado, alguns segmentos devem ser considerados estratégicos como a formação básica e técnica.
Profissicionais capacitados são escassos no mercado nacional devido: (i) a crise do sistema educacional, (ii) a quantidade insuficiente de centros de formação e (iii) inapropriada distribuição desses centros ao longo das regiões do país.
Os últimos resultados da avaliação feita sobre o ensino no país relataram que mais de 70% das crianças do ensino fundamental não aprenderam o suficiente em português e matemática para sua série e idade (Fonte: jornal Estado de São Paulo de 14 de Dezembro de 2008). Segundo o professor José Francisco Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), se um aluno não atingir um determinado nível de aprendizagem em um estágio de sua vida, então, ele terá ainda mais dificuldades nos próximos que virão.
A reformulação do ensino brasileiro deve estar entre as prioridades nacionais, uma vez que se torna cada vez mais necessária a constituição de uma sociedade mais crítica. Mas como fazê-la? Um ponto em comum entre os dez países de maior sucesso educacional, social e material do mundo é a existência de um currículo obrigatório na educação básica. Um currículo com metas acadêmicas bem definidas certamente ajudará o país a progredir social e tecnologicamente por conseqüência. Na maior parte do Brasil, esse currículo não existe.
Somente com uma sólida educação básica; o aprimoramento da conexão entre as unidades que fazem pesquisas e os setores produtivos; a construção de centros tecnológicos bem equipados e o financiamento público atuando como coluna vertebral do avanço tecnológico é que as empresas nacionais e multinacionais poderão buscar soluções tecnológicas nacionais ao invés de importá-las. Atitude que certamente resultará em saldo positivo para a balança comercial (exportações menos importações).
Vejamos o caso da China, que atualmente assumiu o posto de terceira maior economia do mundo. Ela continua investindo fortemente em educação, ciência e tecnologia para que, ao invés de privilegiar a importação de dispositivos, instrumentos, equipamentos e técnicas, ela seja capaz de desenvolvê-los fortalecendo sua indústria, gerando novas oportunidades de empregos e, assim, aumentando a mobilidade do mercado interno.
Segundo a Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento (OCDE), os chineses investiram em ciência e tecnologia por volta de 140 bilhões de dólares em 2006, o que representou 11% do PIB (Produto Interno Bruto) do país - 2,3 trilhões de dólares. Nesse mesmo ano, o crescimento da economia deles se aproximou de 12%. Para efeitos de comparação, nos próximos dois anos, o governo brasileiro promete investir 30 bilhões de reais em ciência e tecnologia, o equivalente a aproximadamente 1,2% do PIB de 2008 – decisão tomada bem antes desse atual cenário de crise econômica.
No ano passado, os chineses ultrapassaram o Japão no que se refere ao número de patentes depositadas. A patente é um título de propriedade temporário outorgado pelo Estado, por força de lei, do inventor ou pessoas que possuem direitos de comercialização, uso etc. Segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual(OMPI), em todo o mundo, quase 80% da demanda por depósitos de patentes e pelas patentes concedidas são para escritórios americanos, chineses, japoneses, europeus e sul coreanos. Na relação entre os investimentos em pesquisa e desenvolvimento e o número de patentes concedidas para residentes, o Brasil está entre os 20 países mais bem colocados. Sem dúvidas estamos no caminho certo, no entanto a questão é: Quão rápido almejamos progredir?
Torna-se cada vez mais evidente que os investimentos em educação, ciência e tecnologia devem ser mais expressivos a fim que atuem como agentes transformadores locais em cada região do país. Assim, em médio e longo prazo, haverá mudanças significativas na economia, e, principalmente, diminuição efetiva da diferença social. O desenvolvimento de senso crítico dos indivíduos de nossa sociedade levará a uma nova concepção de mundo, na qual caberá aos nossos governantes direcionarem para o desenvolvimento nacional através da díade – ciência e tecnologia e impulsionada pela amálgama principal – a educação.

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