Tanto a copa do mundo de futebol de 2014 quanto às olimpíadas de 2016, podem ser potenciais amenizadores do Custo Brasil. Este termo genérico utilizado para descrever


Perez comenta que esta problemática poderá ser atenuada com um dos maiores legados que os eventos mundiais tem a capacidade de proporcionar, que seria a valorização da educação como formação pessoal, ou seja, de cidadãos. Atualmente, a população brasileira não possui exatamente esse perfil, pois é caracterizada por 40% de analfabetos funcionais, “Pessoas com baixa escolaridade procuram menos seus diretos, tem menor bagagem para fazer a análise mais crítica do cenário do país, mas pelo visto, nos querem assim” relata o acadêmico.
Com o intuito de aprofundar essa questão da educação, o grupo de estudo do pedagogo iniciou uma pesquisa, na qual acompanhará o quadro educacional do Rio até a realização das olimpíadas. “Iremos analisar cuidadosamente a situação da cidade maravilhosa no que refere a inserção na educação e a melhoria da qualidade do ensino, e inicialmente acompanharemos até depois dos jogos...” A preocupação é justificada, uma vez que o professor aponta dados do IBGE em que menos de 60% dos adolescentes entre 15 e 17 anos estão devidamente matriculados no ensino médio. “Sem educação de base não se forma uma sociedade crítica que desenvolve tecnologias e que briga por seus direitos”, conclui o acadêmico.

Tabela fornecida pelo IBGE que mostra o percentual de jovens inseridos em instituições de ensino no Brasil e em suas duas maiores metrópoles
O professor Dr. Paulo César Montagner, diretor da faculdade de educação física da Unicamp, também acredita que haja uma relação do modelo de desenvolvimento esportivo brasileiro com a formação do ser humano e conquentemente com o custo país. “A prática esportiva está relacionada com a transmissão de valores e formação do caráter, então deveria ser garantida para todos. Contudo, o modelo brasileiro de desenvolvimento esportivo é fundamentado no modelo europeu, no qual a prática de esportes em geral acontece em associações privadas. O modelo piramidal anglo-saxão é o que julgo mais interessante, já que a prática esportiva começa na escola. No caso brasileiro, a escola não é mais elitista como nos anos 1960, já que todos os brasileiros até os 14 anos têm acesso à educação, mas ainda existe defasagem na qualidade do ensino”. Oferecer melhores condições é a segunda parte do desafio brasileiro, se a inserção da educação física na escola ir além do rola bola, poderá ajudar os educadores na difícil tarefa de auxiliar os jovens e adolescentes a consolidarem seu senso crítico e avançarem na questão comportamental. “Se a transmissão de valores for papel elementar de nossas escolas então teremos naturalmente inúmeros heróis olímpicos, eles apareceram naturalmente” complementa o educador.

Representação esquemática dos modelos de desenvolvimento do esporte: (1) Modelo Anglo-saxão. A, B e C são porções da população. A e B representam a grande massa em um Estado no qual o esporte é oferecido a todos. Somente uma pequena porção da população, representado por C, pratica esporte de alto rendimento. (2) Modelo Europeu. Neste modelo a prática de esportes em geral acontece em associações (clubes da iniciativa privada), ou seja, nem todos têm acesso ao esporte por que sua prática requer recursos financeiros
O professor da faculdade de engenharia elétrica Dr. Secundino Soares Filho completa ainda que o custo Brasil é em muitos casos relativo mais a interesses políticos do que falta de conhecimento científico ou tecnológico. “Há quase 20 anos venho tentando convencer o operador nacional do sistema elétrico (ONS) que estamos gerenciando mal nosso sistema. Poderíamos reduzir em até 50% o valor da nossa energia elétrica, o que certamente reduziria o custo país”. Casos como esse, nos mostram que devemos nos atentar para a política implícita em qualquer planejamento ou ação do Governo.
O Brasil possui a oportunidade única de avançar na direção de solucionar seus problemas com infraestrutura básica e educação através dos investimentos nos megaeventos. No entanto, é necessário cobrarmos o planejamento mais critico das melhorias que serão implantadas no país, para não tenhamos que aceitar “elefantes brancos” como os produzidos pelo Pan do Rio. Concomitantemente, os quesitos transparência dos gastos públicos e o esforço para aumentar a inserção dos jovens na escola versus a melhoria da qualidade do ensino, certamente são medidas que trarão legados maravilhosos para qualquer cidade, inclusive para a que ainda não é tão maravilhosa assim. Somente quando exercemos nossa cidadania, garantiremos que esses megaeventos sejam oportunidades, e não megafrustações ou megafiascos.
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